Bipolaridade: como identificar as fases de mania, depressão e buscar ajuda médica.
- Dr. Lucas do Prado

- 14 de nov.
- 6 min de leitura
Atualizado: 30 de nov.
BIPOLARIDADE: Além dos Extremos de Humor
A bipolaridade é um tema cercado de mal-entendidos. No senso comum, o termo é usado para descrever qualquer mudança rápida de humor. É fundamental esclarecer: o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) é um transtorno mental, caracterizada por alterações extremas e bem definidas no humor, na energia e na capacidade de funcionamento.
Principais Aprendizados que Você Terá Neste Artigo:
A bipolaridade não é apenas "mudar de humor"; é uma doença de base biológica;
O transtorno se manifesta em ciclos de mania/hipomania e depressão;
Existem dois tipos principais (Tipo I e Tipo II), com diferenças relevantes no tratamento;
O tratamento é crônico e focado na estabilização do humor;
A adesão à medicação é o fator de maior sucesso a longo prazo.
Estimativas globais indicam que o espectro da bipolaridade afeta cerca de 2% da 4% população (APA, 2013), sendo uma das 10 principais causas de incapacidade no mundo. Para quem busca uma vida de alta performance, o diagnóstico e o tratamento correto do TAB são fundamentais para restaurar a estabilidade necessária.

O que Realmente Caracteriza a BIPOLARIDADE?
A bipolaridade não é uma série de altos e baixos diários. Ela é definida pela ocorrência de episódios distintos e geralmente prolongados que representam mudanças drásticas no estado mental basal do paciente.
Os Dois Polos da BIPOLARIDADE: Mania e Depressão
O transtorno é caracterizado, na maioria dos casos, pela alternância entre dois polos:
1. A fase de Mania
A mania é um período de humor anormalmente e persistentemente elevado, expansivo ou irritável. Dura de dias até semanas e causa prejuízo grave.
Sintoma Chave da Mania | O que o Paciente Sente |
Grandiosidade e Autoestima Inflada | Crença exagerada em suas habilidades; sente-se invencível. |
Diminuição da Necessidade de Sono | Sente-se totalmente descansado com apenas 2 ou 3 horas de sono. |
Pressão por Falar | Fala rápido, alto e sem parar; dificilmente pode ser interrompido. |
Fuga de Ideias | Os pensamentos correm em alta velocidade, dificultando a concentração. |
Comportamento de Risco | Envolvimento em gastos excessivos, investimentos irresponsáveis ou excesso de atividade sexual. |
Importante: A Hipomania é uma forma mais branda da mania, durando pelo menos quatro dias, sem causar prejuízo social ou laboral grave, mas perceptível por outros.
2. A Fase Depressiva
O polo depressivo é difícil de distinguir da Depressão Maior Unipolar, com sintomas como tristeza profunda, anedonia (perda de prazer), falta de energia, alterações no apetite e pensamentos de morte.
Os Tipos de BIPOLARIDADE: Diferenças Cruciais
O diagnóstico correto é vital, pois a abordagem terapêutica (principalmente os estabilizadores) muda conforme o tipo:
Tipo I vs. Tipo II
Característica | Transtorno Bipolar Tipo I | Transtorno Bipolar Tipo II |
Episódio de Mania | Obrigatório. O paciente teve, pelo menos, um episódio completo de mania. | Ausente. Nunca houve episódio de mania completa. |
Episódio de Hipomania | Pode ocorrer. | Obrigatório. O paciente teve, pelo menos, um episódio de hipomania. |
Episódio Depressivo | Quase sempre ocorre, mas não é obrigatório para o diagnóstico. | Obrigatório. É a fase que geralmente leva o paciente ao médico. |
Risco Principal | Maior risco de psicose e internação durante a mania. | Maior tempo passado em depressão, o que leva a um alto risco de suicídio. |
Ciclotimia: É um quadro mais leve e crônico, com hipomania e sintomas depressivos que não chegam a configurar um episódio completo.
As Causas da BIPOLARIDADE: Por Que Acontece?
A bipolaridade é uma doença com forte base biológica e neuroquímica.
Fatores Genéticos e Neurobiológicos
Genética: O fator de risco genético é o mais forte entre todos os transtornos psiquiátricos. Se um parente de primeiro grau (pai, mãe, irmão) tem TAB, o risco de desenvolver a doença é significativamente maior.
Neurotransmissores: O transtorno é caracterizado por uma instabilidade na regulação dos neurotransmissores (Serotonina, Noradrenalina, Dopamina). Na mania, há uma espécie de "superaquecimento" dessas vias; na depressão, há uma lentidão ou "curto-circuito".
Estressores Ambientais
Embora a causa seja biológica, o ambiente atua como gatilho. Eventos estressantes intensos, privação de sono e o uso de substâncias (como álcool ou drogas) podem precipitar um episódio de mania ou depressão em quem já tem a vulnerabilidade genética.
BIPOLARIDADE e o Trabalho: Gerenciando o Desempenho em Crises
A BIPOLARIDADE é uma das condições que mais gera instabilidade na vida profissional, mas o diagnóstico e a estabilização permitem que o paciente mantenha ou recupere a alta performance. O grande desafio é que a doença afeta o desempenho de maneiras opostas, dependendo do polo.
O Impacto da Mania e da Depressão no Desempenho
Na Fase de Mania/Hipomania (O "Alto"): O paciente pode parecer extremamente produtivo à primeira vista. No entanto, essa "alta performance" é insustentável e perigosa. Ocorre perda de julgamento, tomada de decisões impulsivas, excesso de confiança e irritabilidade, levando a conflitos interpessoais e projetos iniciados, mas nunca terminados. O resultado é o esgotamento, prejuízo financeiro e burnout.
Na Fase Depressiva (O "Baixo"): O impacto é similar ao da depressão unipolar, mas frequentemente mais grave. O paciente tem dificuldade crítica com a concentração, raciocínio lento, fadiga extrema e falta de motivação. Isso resulta em atrasos, erros e, frequentemente, no afastamento do trabalho.
Estabilização: O Investimento na Alta Performance
Para um paciente com BIPOLARIDADE, a adesão ao tratamento não é apenas uma questão de saúde, mas de estratégia de carreira.
Previsibilidade é Poder: A chave para a alta performance é a estabilidade. Os estabilizadores de humor atuam prevenindo os picos de mania (que levam a erros e impulsividade) e os vales de depressão (que levam à incapacidade).
Melhora Cognitiva: Com a estabilização, o foco, a clareza e a velocidade de raciocínio retornam, permitindo que o profissional opere em seu potencial máximo, de forma sustentável e controlada.
Perguntas Frequentes: As Dúvidas Essenciais Sobre a BIPOLARIDADE
1. A BIPOLARIDADE tem cura?
A bipolaridade é um transtorno crônico. No entanto, com o tratamento adequado e a adesão aos medicamentos, o paciente pode alcançar a estabilidade total e viver sem a ocorrência de episódios de mania ou depressão. O foco não é a "cura", mas a estabilização e a remissão dos episódios.
2. Qual é a chave para o sucesso no tratamento?
A chave é o uso contínuo e disciplinado dos estabilizadores de humor. Diferente da depressão unipolar, na bipolaridade, usar apenas antidepressivos pode ser perigoso, pois eles podem "disparar" um episódio de mania. A prioridade é sempre a estabilização.
3. A BIPOLARIDADE é uma doença rara?
Não. Embora os episódios de mania possam ser dramáticos, o transtorno é relativamente comum (atingindo até 3% da população), sendo, muitas vezes, subdiagnosticado ou confundido com depressão unipolar, especialmente o Tipo II.
Tratamento Baseado em Evidência: A Estabilização do Humor
O tratamento da bipolaridade é sempre personalizado e multidisciplinar. Nossa prioridade é a segurança e a estabilidade do paciente.
1. Farmacoterapia: O Estabilizador é o Pilar
Para o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), o tratamento medicamentoso mais importante é o uso de Estabilizadores de Humor. Pense neles como um "regulador de voltagem" que atua no seu cérebro.
Função Essencial: Eles são projetados para prevenir a ocorrência tanto dos picos de mania quanto dos vales de depressão. O objetivo é manter o seu humor dentro de uma faixa de normalidade e estabilidade.
Melhora no Prognóstico: A eficácia dos estabilizadores de humor é cientificamente comprovada, sendo cruciais para a prevenção de episódios graves e para a redução significativa do risco de suicídio no TAB (Goodwin & Jamison, 2007).
Adesão Contínua é Vital: O tratamento da bipolaridade é crônico. É fundamental que a medicação seja utilizada de forma contínua e disciplinada. Interromper o tratamento por conta própria leva a um risco altíssimo e quase certo de recaída, o que pode causar prejuízos sérios à sua vida.
2. Psicoterapia: Reconhecendo e Lidando com os Ciclos
A psicoterapia é um complemento essencial. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e a Terapia Interpessoal e de Ritmo Social (TIPRS) são as mais indicadas.
Foco: A terapia ajuda o paciente a identificar os gatilhos dos seus episódios (privação de sono, estresse) e a manter a rotina (ritmo social), que é vital para a estabilidade do humor.
Educação: A psicoeducação (ensinar o paciente sobre a doença) é um dos tratamentos mais eficazes para o TAB, pois aumenta a adesão à medicação.
Conclusão e Próximos Passos
A bipolaridade é uma condição que exige conhecimento e compromisso, mas é altamente tratável. O diagnóstico precoce e a adesão rigorosa ao tratamento com estabilizadores de humor permitem que os pacientes alcancem a estabilidade e mantenham uma vida produtiva e de alta performance.
Se você ou um familiar notou a alternância de humores extremos (euforia, irritabilidade e depressão), é fundamental buscar uma avaliação. Não trate sintomas de mania ou depressão bipolar apenas com antidepressivos, pois isso pode ser perigoso.
Sua saúde mental merece atenção especializada. Se os sintomas persistem, procure a avaliação de um profissional qualificado.




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